Mérida | Espanha

14:05

Roteiro de um dia na antiga capital romana da Lusitânia
Mérida é a capital da comunidade autônoma da Extremadura, Espanha. Ela tem um legado arqueológico fascinante, por isso não é de admirar que, a cidade espanhola esteja listada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Por que visitar Mérida?
Mérida tem uma importância histórica que se foi perdendo no tempo, mas a sua herança histórico-cultural é de peso. 
Emérita Augusta, atual Mérida, foi fundada pelo imperador romano Octavio Augusto no século I A.C. Inclusive, Emérita foi a capital da Lusitânia romana. 
As maiores cidades lusitanas eram, as atualmente portuguesas, Aeminium (Coimbra), 
Conimbriga (Condeixa-a-Velha), Scallabis (Santarém), Olisipo (Lisboa), Ebora (Évora), Pax Julia (Beja), Ossonoba (Faro) e, as atualmente espanholas, Salmantica (Salamanca), Norba (Cáceres), Metellinum (Medellín), e a já mencionada capital, Emérita Augusta.
Em Mérida é possível encontrar algumas das mais bem preservadas ruínas romanas do tempo da província hispânica sob o controle de Roma. Obviamente que o Conjunto Arqueológico de Mérida é a atração turística que atrai mais visitantes. Declarado Patrimônio Mundial em 1993 pela UNESCO, o Conjunto Arqueológico de Mérida é um dos principais e mais extensos conjuntos arqueológicos de Espanha.

Quando visitar Mérida?
Mérida tem um clima mediterrâneo. Por causa da sua localização geográfica no centro da província espanhola da Extremadura, os meses de verão – julho e agosto – podem ser muito quentes e os meses de inverno – dezembro a fevereiro – trazem temperaturas bastante frias. Obviamente que de março a setembro a popularidade da cidade de Mérida atrai muitos visitantes. Destacamos os eventos da Semana Santa com as tradicionais procissões de rua, a animada Fiesta de San Jorge a 23 de Abril e o Festival Internacional de Teatro Clássico de Mérida entre os meses de junho e agosto, com a oferta de performances teatrais ao ar livre nas noites de verão no Teatro Romano.
Antes de começar o roteiro tenha em mente as seguintes informações:
Ingressos
A entrada no Complexo Histórico-Arqueológico permite o acesso, em um ou vários dias (não expira), a todos os lugares monumentais geridos pelo Consórcio:
Teatro e Anfiteatro Romanos | Circo Romano | Kasbah Árabe | Conjunto Arqueológico de Morería | Cripta da Basílica de Santa Eulália | Casa da Mitreo-Columbaria | Casa Anfiteatro | Centro de Interpretação do Templo de Diana
Preços
Conjunto completo: € 16 - € 8 (reduzido com mais de 65 anos ou reformados)
Apenas Teatro e Anfiteatro: 12€ - 6€ (reduzido)
Qualquer outro monumento: 6€ - 3€ (reduzido) exceto Centro de Interpretação Templo de Diana: 3€
Estacionamentos
Se preferir deixar o seu veículo num parque de estacionamento fechado e vigiado, a cidade dispõe de vários parques de estacionamento no centro da cidade:
• Teatro Romano (com lugares para ônibus e motorhomes)
• Atarazanas
• Politécnico
• Estação Ferroviária
• José Fernández López
• Cervantes
ORA (Zona Azul e Verde)
Em algumas ruas do centro da cidade existe um serviço de estacionamento regulamentado com um tempo máximo de 3 horas (azul) e uma hora (verde).
Horário: 9h às 14h e 16h às 20h (segunda a sexta) e 9h às 14h (sábados)
Mais informações: https://merida.vectalia.es
De acordo com o site de turismo da província de Mérida, diga-se de passagem uns dos mais bem elaborados que já vi, nós dividimos a nossa visita à Mérida em quatro partes, a saber:
1-Mérida Essencial
Esta opção permite-nos conhecer alguns dos edifícios dedicados aos espetáculos na grande capital do Império Romano, bem como uma abordagem superficial do quotidiano dos primeiros habitantes de Mérida e das suas formas de expressão face à morte. Uma visita ao Museu fornecer-nos-á as chaves de uma civilização que é parte integrante da nossa cultura. Estas visitas são imprescindíveis se vier a Mérida e quiser descobrir o seu esplêndido passado romano.

Teatro Romano
Iniciamos o nosso roteiro em Mérida com a visita ao príncipe dentre os monumentos emeritenses. Estamos obviamente a falar do seu Teatro Romano, uma obra verdadeiramente monumental à qual se soma outra particularidade: é o único edifício que, após o seu restauro, voltou a ter a sua função original, acolhendo desde 1933, o Festival Internacional de Teatro Clasico de Mérida.
É imperioso subir até ao topo das suas bancadas, passear pelos estreitos corredores que davam acesso ao palco e, claro, ir até à Boca de Cena, que é claramente a zona mais espetacular do teatro. Não deixem, portanto de subir ao palco e de, por alguns momentos, imaginar que é um (a) ator/atriz de outros tempos, representando perante um vasto e sempre exigente público. A sonoridade é fantástica para algo tão secular. Arrepiante!
Teatro Romano foi construído sob o patrocínio de Agripa, genro de Augusto, entre os anos XVI e XV a.C., quando a colônia foi promovida a capital provincial da Lusitânia. Assim como o prédio anexo ao Anfiteatro, o Teatro foi parcialmente construído na encosta de uma colina, o que baixou substancialmente os custos de sua construção. O restante foi erguido em obra de concreto forrada de silhares. Embora os romanos não gostassem muito do teatro, uma cidade de prestígio não poderia deixar de ter um edifício para jogos de palco. A Augusta Emérita foi especialmente generosa na sua capacidade: cerca de seis mil espectadores. 
Atrás do muro frontal cênico existe um grande jardim em pórtico cercado por muros com nichos decorados com estátuas de membros da família imperial.
No extremo poente do pórtico do teatro podemos ver a Casa-Basílica Del Teatro. Acredita-se que as salas com absides com janelas à cabeceira faziam parte de uma igreja das primeiras comunidades cristãs, razão pela qual se chamava Casa-Basílica.

Anfiteatro 
Anfiteatro foi erguido em 8 a.C., como comprovam as inscrições encontradas em suas tribunas, e serviu de palco para espetáculos muito populares: jogos de gladiadores, caças de feras e luta entre animais selvagens em palcos artificiais que recriavam florestas, selvas com lagoas ou desertos, tudo nas grandes plataformas de madeira que formavam a arena. A capacidade aproximada desta gigantesca arena era entre quinze e dezesseis mil espectadores.
Ladeando as portas há uma série de salas que eram usadas como gaiola para as feras ou como salas onde os gladiadores se preparavam. Na areia vê-se a presença de um grande fosso. Nela estavam os pilares de madeira que sustentavam as plataformas e, sob os quais estavam escondidos todos os dispositivos necessários para o desenvolvimento de espetáculos tão complexos.
Casa do Anfiteatro
Fora do recinto anterior, que inclui o Teatro e o Anfiteatro, e a poucos metros, encontra-se a Casa do Anfiteatro, zona arqueológica que se ficava fora das muralhas de Augusta Emérita, onde conviviam habitações funerárias e espaços industriais. Inclui duas casas: a Casa da Torre de Água, do século I a.C, e a Casa do Anfiteatro, que teve uma vida um pouco mais longa, desde finais do século III a.C até inícios do século V d.C.

Museu Nacional da Arte Romana
Para terminar esta parte, tem de visitar o Museu Nacional de Arte Romana, uma obra do prestigiado arquiteto navarro, Rafael Moneo Vallés, com as suas dimensões colossais, com o uso repetido do arco semicircular e com a utilização de tijolo e betão, recria os grandes edifícios da época romana tardia, como os banhos de Diocleciano em Roma ou o mausoléu de Gordian em Tessalônica. No seu interior podemos admirar uma das melhores coleções de escultura e mosaicos romanos da península. 
Através da visita às suas salas vamos perceber como funcionava uma grande cidade romana e como a partir dela era administrada uma vasta província, a mais ocidental do Império Romano. A visita a este Museu permite-nos também aproximar-nos dos mais variados aspetos do quotidiano dos primeiros habitantes de Mérida. 
O que mais me impressionou foi a quantidade, o bom estado e a grandiosidade dos mosaicos instalados verticalmente nas paredes deste museu.
2-Mérida Centro da Cidade
Sugerimos um passeio pela rua tortuosa da parte antiga da cidade. Vamos descobrir tudo o que aconteceu dentro das muralhas da cidade ao longo da história e, sobretudo, vamos mergulhar nos lugares onde o poder residiu e reside: os fóruns, o convento e a praça. 

Puerta de La Villa
O percurso inicia-se na Puerta de La Villa, uma praça no centro da qual se ergue uma fonte com uma estátua feminina de bronze, vestida no estilo romano, carregando um ramo de louro em uma das mãos. A escultura é obra do famoso escultor local Juan de Ávalos. 
Esta foi feita em homenagem aos arqueólogos que iniciaram as escavações em Mérida no início do século XX. 
Se olharmos ao fundo, à nossa direita, descobrimos a presença de outra estátua, neste caso de mármore. É a representação ideal da Mártir Eulália, padroeira da cidade. Foi feito por outro escultor emérito: Eduardo Zancaza.
À nossa esquerda está a Calle de Santa Eulália, uma verdadeira artéria vital da cidade que perpetua o que foi o eixo da Colônia Romana, o decumanus Maximus. Esta estrada dividia a cidade de oeste para leste, desde a porta da ponte sobre o Guadiana até onde estamos agora, onde se localizava outra porta, daí esta praça se chamar Puerta de La Villa
A seguir, você chega à Calle das Pontezuelas Termas, localizada onde foi um secador de presunto até 2002. Ali surgiram restos de uma casa do século I fora das muralhas da cidade, bem como um complexo termal cuja planta se conserva quase intacto. As entradas da Sala Decumanus mostram-nos um fragmento do decumanus maximus, com as suas lajes de diorito e quartzito, bem como restos dos alpendres que o ladeavam. Já no interior da referida sala, vale a pena admirar um testemunho arqueológico único. É uma cisterna romana usada pelos primeiros cristãos da cidade como igreja improvisada.
A poucos metros das termas, na esquina das Calles José Ramón Mérida e Sagasta, foi construído um edifício residencial em cujo subsolo funciona o Centro de Interpretação do Mosaico. Nela podemos ver um pequeno troço da muralha, com uma torre redonda anexa. No interior da parede e a ela anexados, encontramos alguns quartos pertencentes a uma das casas, alguns deles com piso em mosaico bicromático.

Pórtico Del foro
Pelas Calles Berzocana e San José, o primeiro conjunto que encontramos chama-se Pórtico Del Foro. É a esquina de um pórtico monumental que fazia parte do grande programa de propaganda do antigo Fórum Municipal de Augusta Emérita. Este pórtico foi erguido em meados do século I à imagem e semelhança do Fórum de Augusto em Roma.

Templo de Diana
Continuando pela Calle Sagasta, chegamos ao Templo de Diana, um Templo de Culto Imperial localizado no final de uma grande praça que foi parcialmente nivelada, pois restos de um criptopórtico podem ser vistos em algumas áreas. O templo, de planta retangular, ergue-se sobre um alto pódio de granito que termina em molduras. Acima fica a colunata, cujos tambores de granito foram estucados e pintados. Esta colunata circunda todo o templo. Deve ter sido erguido mesmo sob o poder de Augusto.
O seu excepcional estado de conservação deve-se ao fato de, durante séculos, o templo ter servido de fundação e estrutura para o renascentista Palácio do Conde de Los Corbos, do qual ainda se conservam algumas partes.
Palácio de los Corbos, de gosto renascentista, erguido no século XVI com materiais de construção provenientes do Templo de Diana. Conhecido popularmente como a Casa de los Milagros esteve em risco de demolição quando da sua expropriação em 1972, mas felizmente essa decisão foi afastada e, inclusivamente, o edifício foi recuperado.
Centro Cultural de Alcazaba
Caminhamos pela Calle Romero Leal para chegar ao Centro Cultural de Alcazaba, onde ainda se conservam alguns solares do século XIX ou do início do século XX. Dentro do qual podemos ver restos de quarteirões da cidade romana delimitada por estradas. Estes quarteirões apresentam uma miscelânea de estruturas de diferentes épocas e com diferentes funções, bem como um espaço público alto-imperial do qual se conserva um grande lago, posteriormente reaproveitado para a construção de alguns banhos termais.
Antes de chegar à Plaza de España, é necessário passar pela Plaza Del Rastro, onde podemos admirar a fachada do Conventual Santiaguista. O acesso ao edifício é feito por uma porta em arco semicircular. Ao corpo principal do Conventual une-se a torre de homenagem, um cubo maciço com uma única abertura minúscula. Anexada a esta, vemos a fachada do que foi a igreja do convento, reformada para abrigar uma sala de reuniões. Este edifício é hoje a sede da Presidência do Governo da Extremadura.

Plaza de España
A seguir, propomos-lhe perambular um pouco pelas ruas e ruelas de Mérida, para assim sentir um pouco da cidade. Dirija-se à praça principal, Plaza de España, onde se situa o Ayuntamiento.
Atente ao Palacio de los Vera Mendonza, um dos palácios mais emblemáticos do centro de Mérida em estilos gótico e barroco. Ao redor da praça também podemos ver a Casa do Pacheco. Atualmente todos os dois pertencem ao Hotel Ilunion Mérida Palace. Visita livre.
Na Plaza de España destaca-se a presença, no seu centro, de uma fonte em mármore neobarroco de finais do século XIX, obra da oficina lisboeta de Germano José do Salles. De um grande lago circular emerge um pedestal com putti que, montados em golfinhos, soam cornucópias. As arcadas que se conservam, e que circundam todo o recinto, são o resultado de várias reformas.
Por ali, também pode ver o Círculo Emeritense, a Casa Consistorial e o Palácio da China.
Em contraste puro, o Palacio de La China, do lado oposto da Plaza de España, um edifício comercial do início do século XX. É exemplo do ecletismo arquitetônico inspirado no estilo andaluz, mais concretamente vindo de Sevilha.

Concatedral de Santa María
O edifício mais antigo de todos os que circundam a Plaza de España é a Concatedral de Santa María. A descoberta de alguma peça visigótica sugere que aqui se situava a famosa catedral mãe de Santa Maria de Jerusalém, com o seu batistério, o palácio episcopal e o átrio que os unia. A verdade é que, uma vez reconquistada a cidade, aqui foi erguida uma ermida que foi progressivamente ampliada. Hoje nos é apresentado como um complexo gótico arcaico, ou seja, um templo muito sólido e atarracado, com pináculos simples na cabeceira.

Convento de Santa Clara/ Museu Visigodo
Subindo a Calle Santa Julia acedemos ao antigo Convento de Santa Clara. Este convento pertenceu às Irmãs Clarissas e não estava bem acabado até ao século XVII. É uma obra de referência do barroco classicista, apesar dos muitos altos e baixos que teve o edifício. No seu interior encontra-se a Coleção Visigótica que contém uma infinidade de testemunhos do que foi a Mérida visigótica, sobretudo as peças que as decoravam: cúpulas, pilastras, janelas, colunas, treliças, ou que faziam parte da liturgia nas igrejas do poderoso bispado de Mérida: portões, fontes, mesas de altar. Também podemos ver lápides ou inscrições tumulares dos cristãos da época, bem como objetos de ouro, cerâmica e vidro.

Hospital de San Juan de Dios / Assembleia Autônoma
Por uma ruela estreita que passa entre a cabeceira da antiga Igreja de Santa Clara e as traseiras da casa Pacheco, saímos no largo recôndito de Santa Clara, que se une a outra pequena praça que o edifício do antigo Hospital de San Juan de Dios, hoje sede da Assembleia Autônoma. Esta fundação franciscana é de estilo barroco, tem plintos e cantos de granito, enquanto o resto das fábricas e os portais são de tijolo. O seu interior é construído em torno de um pátio pórtico em dois níveis, o primeiro com arcos semicirculares e o segundo com uma galeria de arcos rebaixados.

Arco de Trajano
Muito perto está o Arco de Trajano, que era a monumental porta de entrada para o espaço sagrado que rodeava um gigantesco templo de culto imperial. O arco semicircular, que se mantém a 15 metros de altura desde o início dos pilares, era a abertura central de uma porta com três arcos, sendo os dois laterais menores e rebaixados. Toda a sua estrutura era feita de silhares de granito.
Junto ao arco encontra-se o antigo Convento de las Concepcionistas, onde se misturam os estilos renascentistas e barroco.

Hospital de Jesús Nazareno
A poucos metros, subindo a Calle São Francisco, fica o antigo Hospital de Jesús Nazareno, edifício que não parou de passar por reformas desde o início de sua construção, em 1725. Era um convento, um hospital para os pobres, hospital de campanha, cadeia e museu. Hoje esta propriedade abriga uma das mais luxuosas e antigas pousadas nacionais, desde que foi inaugurada pelo rei Afonso XIII. É conveniente entrar e ver o pequeno claustro que se encontra no seu interior. Suas colunas, de construções romanas ou visigóticas, exibem inscrições árabes cúficas em seus fustes com invocações a Alá.
Se descermos alguns metros pela Calle Holguín, encontraremos os restos do Templo do Fórum Provincial, do qual podemos ver apenas um canto de seu pódio. Seu núcleo é feito de concreto forrado com silhares. Alguns dos fragmentos de tambores de coluna preservados, todos de mármore, comprovam a imponência com que este edifício foi construído e, sobretudo, o seu colossalismo já que, apenas o pódio, tem 3,10 metros de altura no que foi preservado.

Iglesia Del Carmen
Muito perto das ruínas deste templo, e para concluir o nosso percurso, encontra-se a Iglesia Del Carmen, que foi erigida pela Ordem dos Franciscanos Descalços em meados do século XVIII, tornando-se asilo após a sua desvinculação. A igreja tem curiosos brasões da cidade em sua capa. É mais um exemplo do barroco classicista, o mais prolífico da cidade.
3-Mérida e o Rio Guadiana
Rio Guadiana é o grande pulmão verde de Mérida, dividindo a cidade em dois. Entre as suas margens e as frondosas ilhas que se formam no canal, pode-se observar facilmente um grande número de aves, entre as quais se destacam: Garças, Cormorões, Gaivotas Rindo e, claro, Cegonhas-brancas.
Um parque de quase dois quilômetros de extensão, chamado de “A Ilha”, percorre pontes monumentais de diferentes fases da história, como: a ponte ferroviária de ferro, obra do engenheiro William Finch Festherstone, erguida entre 1881 e 1883; a espetacular Ponte Lusitânia , obra de Santiago Calatrava, inaugurada em 1992; a singular Ponte Romana, que destacaremos a seguir; e finalmente, a sul, podemos ver a Ponte Nova, obra de Carlos Fernández Casado, um dos mais destacados engenheiros espanhóis do século passado. É aqui que a cidade foi forjada e ocorreram os momentos mais sangrentos da história local. É também esta zona onde se aglomeram várias zonas arqueológicas sem solução de continuidade e onde se ergue um edifício único: a Alcazaba. Por fim, a nova imagem da cidade reflete-se também nas águas do Guadiana com novos edifícios dos mais famosos ateliers de arquitetura nacional.

Zona Arqueológica de Morerías
O percurso começa na Zona Arqueológica de Morerías, um terreno de 14 m² que, até o início dos anos noventa do século passado, ocupou o humilde Bairro de Morerías, e que hoje é um dos maiores sítios arqueológicos urbanos da península. Em Morerías conserva-se o troço mais longo de muralha romana das que foram trazidas à luz, mostrando-nos não só a sua alvenaria original (cuja largura preservada é de quase três metros e a altura poderia chegar a oito metros) e os reforços que já em momentos tardios do Império estavam ligados a ela, mas também portas, portões e parapeitos. Mas o que Morerías nos oferece é uma visão clara da evolução do planejamento urbano de Mérida desde o século I até o período visigodo. Vemos como as passarelas em pórtico, as casas e os quarteirões que as cercam vão se modificando gradativamente. 
Saindo do recinto, na rotunda que dá acesso à majestosa Ponte Lusitana, avista-se um chafariz com uma réplica em tamanho natural de Augusto vestido de general das legiões, cópia fiel da estátua de mármore encontrada na Prima Porta, e que agora está preservado no Museu do Vaticano.
Se continuarmos pelo Paseo de Roma chegamos à Ponte Romana, uma das mais longas da antiguidade, e cuja construção dá sentido à existência desta cidade e, pelo seu valor estratégico, um elemento crucial para o comércio e para todas as guerras que ocorreram no oeste da península.
A ponte, obra da época da fundação da colônia, é construída inteiramente em concreto forrado com silhares de granito, é hoje composta por sessenta arcos semicirculares, tem quase oitocentos metros de comprimento e doze metros de altura nos pontos mais altos. Os robustos pilares sobre os quais assentam estes arcos apresentam corta-mares arredondados a montante nos troços que poderiam ser mais castigados pela corrente. Além disso, os pilares desses trechos são perfurados com arcos como vertedouros, para reduzir a resistência à corrente de uma obra tão robusta como a desta ponte. Não saímos da ponte, porque daqui temos uma excelente vista da Alcazaba do Emirado, da barragem romana que veremos mais tarde e da atual Mérida.
Daqui podemos admirar como a Mérida do presente ordena a sua fachada ao rio com uma amostra significativa da nossa arquitetura contemporânea. Assim, na margem direita podemos ver o colossal edifício administrativo dos novos ministérios que Juan Navarro Baldeweg construiu sobre as ruínas de Morerías. Na margem esquerda, junto à foz da ponte, a Escola de Administração Pública, desenhada por Javier Saínz de Oiza. À sua esquerda encontra-se uma fonte com a representação do deus Oceano, obra do escultor cordovão Aurelio Teno. Entre o bosque podemos ver outro grupo escultórico, desta vez é uma obra de Rufino Mesa chamada "Las Siete Sillas". Há sete blocos de granito que simbolizam a summa caveado Teatro Romano como sete estantes. Mais atrás, destaca-se a massa cinzenta da Biblioteca Jesús Delgado Valhondo, projetada por Luis Arranz. E, além da Ponte Lusitania, dois gigantescos blocos de concreto e vidro abrigam o Palácio de Congressos e Exposições. Os arquitetos Enrique Sobejano e Fuensanta Nieto projetaram este edifício original como uma obra em relevo, já que toda a fachada deste edifício é composta por centenas de placas de concreto que reproduzem a planta do complexo arqueológico de Mérida.

Alcazaba
Antes de entrar no recinto da Alcazaba Árabe, no centro de uma pequena rotunda, podemos ver uma réplica do Loba Capitolina, presente da cidade de Roma para Mérida.
Alcazaba é uma grande fortaleza que foi erguida na Mérida muçulmana pelo emir omíada Abderramán II em 835 dC. O responsável pela sua elaboração foi o arquiteto Abd Allah. Para executar esta Alcazaba, a mais antiga da península, foi inspirada em modelos bizantinos.
A finalidade deste recinto fortificado era múltipla: servir como sede dos escritórios administrativos omíadas e residência do governador local, mas acima de tudo era o filtro de acesso à cidade pela ponte romana, refúgio da minoria árabe durante os repetidos distúrbios locais contra o poder de Córdoba e a praça onde as tropas do emir estavam aquarteladas, seja para reprimir as revoltas dos meridianos moçárabes, seja para realizar incursões de assédio nos reinos cristãos do Norte.
No seu interior destaca-se a presença de uma cisterna, exemplar único da arqueologia peninsular, executada com peças decorativas da arquitetura romana e visigótica. Nesta foi localizada uma mesquita, da qual se conserva a sua planta, posteriormente convertida em igreja. O que era o terceiro andar deste complexo, no qual talvez se localizasse uma torre de sinalização, não está preservado.
Poucas cidades na Hispânia foram urbanizadas tão conscientemente quanto Augusta Emérita. Mais uma prova disso é a existência de uma extensa Barragem Romana na margem direita do Guadiana. É aquele forte muro com contrafortes, com plinto de silhares acolchoados e o resto do alçado em alvenaria, que vemos estender-se desde a Alcáçova até ao local onde se destacam as coberturas de alguns parques de estacionamento públicos. Originalmente, a barragem percorria todo o trecho da cidade voltado para o rio, ou seja, desde os blocos habitacionais de tijolos que vemos ao fundo até alguns metros além da Ponte da Lusitânia. Num troço do dique podemos ver como assenta o troço da muralha da Alcazaba que dá para o Guadiana.
Saindo da margem do rio e entrando no interior, encontramos a Plaza de Toros, obra do ilustre arquiteto Badajocense Ventura Vaca, que foi inaugurada em 1914. Durante as obras de fundação da praça de touros, surgiu um conjunto de esculturas romanas, alguns deles doados por um importante sacerdote encarregado do culto ao deus Mitra.

Casa Del Mitreo
No terreno adjacente à praça de touros, encontra-se a chamada Casa Del Mitreo. Uma casa construída no final do século I e início do século II d.C. fora das muralhas da cidade, sem restrições ao seu crescimento. Sem dúvida, a sua extensão e a decoração de alguns dos seus quartos denotam que os seus proprietários foram figuras importantes da sociedade de Mérida, formados na cultura helenística. Em um dos cômodos da casa está preservado o mosaico do Cosmos. Representa, com grande colorido e realismo, um conjunto heterogêneo de figuras humanas que passam a representar os diferentes componentes do universo conhecido, desde os elementos terrestres e marinhos até os celestes, mas todos girando em torno de uma figura primordial, a do Eternidade (aeternitas).
Antes de sair deste espaço, teremos sido atingidos por um colossal grupo escultórico em bronze que emerge a sul, atrás da Casa Del Mitreo. É uma obra Pietà do escultor Juan de Ávalos, erguida em memória de todo o povo de Mérida que tombou em todas as guerras. Da Casa Del Mitreo, através de um longo corredor ladeado de ciprestes, chegamos a um espaço aberto onde nos são mostrados os diferentes tipos de ritos funerários e as várias formas que o povo de Mérida teve de recordar os seus mortos ao longo dos anos da história.

Colombárias
A partir da Casa Del Mitreo, a través de um longo corredor flanqueado por cipreses, se chega a espaço aberto em que se mostra os distintos tipos de ritos funerários e as variadas formas que tem tido os emeritenses de recordar aos seus mortos ao longo da história.
Ao fundo, num pequeno vale, erguem-se duas pequenas construções que originalmente não tinham telhado.
Nestes edifícios foram depositadas as urnas cinerárias de duas famílias, a dos Voconios e a dos Julios. O túmulo dos Voconios tem planta quadrada e o dos Júlios é trapezoidal, com um espaço triangular acrescido, todo feito de silhares de arestas. Ambos os túmulos são executados com paramentos de pedra bem talhados (opus incertum), sendo as juntas vedadas com meio-fio de argamassa. Ambos os edifícios foram encimados por merlões.
A inscrição no mausoléu dos Voconios diz: "Gaius Voconius Proculus fez o túmulo de seu pai, Gaius Voconius, da tribo Papiria, sua mãe, Cecilia Anus, e sua irmã, Voconia Maria". Recompensas militares são descritas acima da epígrafe. A inscrição dos Julios vem dizer: “Gayo Julio Félix, liberto de Gaio. Quinta Cecília Mauriola, liberto de sua esposa. Caio Julio Modesto, 27 anos”. O mausoléu de Voconios preserva pinturas representando o falecido e o dedicador.
Estes foram acessados ​​através de algumas escadas curtas. No seu interior é possível ver os arcossólios onde podiam ser depositadas as urnas cinerárias. Este conjunto funerário é do século I d.C.
Terminamos o percurso a poucos metros dos Columbários, num dos lados da Avenida Ensanche, por onde passa a linha hidráulica que, proveniente da albufeira de Cornalvo, abastecia a zona sul da cidade. O que se conserva são os restos da caixa do canal (specus), embutido na face da muralha romana, que, pela sua disposição, parece dirigir-se para o local onde se situava a torre de distribuição de água, possivelmente a que hoje ocupa a arena da Plaza de Toros. Das quatro tubagens hidráulicas que abasteciam a cidade de água, esta é a única cujo verdadeiro nome conhecemos, "AQUA AUGUSTA".

4-Mérida e o Vale dos Albarregas
Para além de descobrir as ruínas do circo, local onde se desencadearam as paixões dos antigos moradores de Mérida, este passeio irá impressionar-nos por duas razões: primeiro, porque descobriremos que os romanos aliaram a engenharia à beleza monumental e, segundo, porque seguindo este percurso podemos obter uma ideia clara da importância que Mérida teve durante os primórdios do cristianismo na península e o significado que a Mártir Eulália sempre teve para o povo de Mérida. O percurso tem uma distância de 2,69 km.

Circo Romano
O percurso começa na Avenida Juan Carlos I visitando o Circo Romano, um dos circos mais bem preservados do Império e também um dos maiores. Suas dimensões o certificam, quatrocentos e três metros de comprimento por noventa e seis e meio de largura. Lá você pode visitar o Centro de Interpretação do Circo, que tem um mirante no topo que permite ver todo o layout do circo. Além disso, em sua sala de exposições, são oferecidos aos visitantes diferentes aspectos relacionados ao circo romano por meio de diversos recursos educacionais: painéis, maquetes e audiovisuais.

Aqueduto e os Banhos de San Lázaro/Rabo de Buey
A poucos metros, mesmo em frente ao Circo, encontram-se o Aqueduto e os Banhos de San Lázaro/Rabo de Buey. Este aqueduto é o que permitiu atravessar o vale de Albarregas até uma rede de adutoras que, provenientes de nascentes e ribeiras subterrâneas localizadas a norte da cidade, ainda se encontram intactas em muitos dos seus troços. Sob os imponentes arcos que se conservam deste aqueduto passava a estrada que mais tarde se bifurcava para Córdoba, ou para Toledo e Saragoça. No século XVI, o aqueduto romano estava inutilizável. Em vez de restaurá-lo, a Câmara Municipal preferiu construir um novo, que se encontra integralmente preservado. A poucos metros deste aqueduto pode ver os restos de um banho romano.

Xenodochium
Atravessando um dos arcos pedonais do aqueduto, entramos no Bairro de Santa Catalina onde se encontra o Xenodochium no seu extremo poente. Ali se encontram os restos de um hospital do período visigodo. O que se conserva mostra-nos um edifício central, orientado de nascente para poente, com planta retangular encimada por abside, ladeada por salas individuais cujas paredes têm contrafortes.
Para chegar ao próximo destino, é preciso atravessar os trilhos do metrô e encontrar-se em um grande terreno onde, até pouco tempo atrás, foi erguido o Quartel de Artilharia “Hernán Cortés”. As escavações arqueológicas que aqui se realizam há vários anos trouxeram à luz uma grande concentração de túmulos da época romana, alternados com os restos de algumas mansões suburbanas. Perto e à sombra de um bloco de apartamentos contemporâneo, encontramos um Poço de Termas e Neve, um complexo da época romana ao qual os cientistas, desde a sua descoberta em 1920, atribuíram diferentes usos: banhos, batistério, sede de alguma religião de mistério, fábrica de vidro e até um complexo de armazenamento e distribuição de água. Hoje, todas as obras parecem apontar para a existência de um poço para conservação da neve na câmara circular inferior, do Alto Império, enquanto as salas do piso superior, do século III ou IV d. uso térmico. A verdade é que, entre os séculos XVII e XIX, várias fontes mostram que essas estruturas serviram para abrigar bem a neve de Mérida.
Se nos aproximarmos do nosso próximo destino pela Rambla de Santa Eulália, chegaremos a uma esquina isolada que une os Parques López de Ayala e a Rambla. Neste local ergue-se o obelisco que as pessoas de Mérida ergueram no século XVII a Santa Eulália com peças excepcionais do Templo a La Concordia de Augusto.

Hornito e a Basílica de Santa Eulália
Subindo a Avenida de Extremadura chegamos ao local que alberga o Hornito e a Basílica de Santa Eulália. Na entrada do átrio da Basílica de Santa Eulália vemos um pequeno edifício que é um oratório dedicado a Eulália, popularmente conhecido como "El Hornito". Seu pórtico é feito com peças de mármore extraídas no início do século XVII de um local indeterminado da cidade. Todos eles pertenciam ao Templo que a colônia romana dedicou ao deus Marte.
Já no interior da basílica é possível ver uma amostra de sepulturas de épocas muito diferentes. Assim, mausoléus tardo-romanos de tamanho considerável, como o redecorado com pinturas do século XVI representando estações do Calvário, San Juan, Santa Ana e San Martín.
Ou o sepulcro selado por um mosaico no qual o falecido era representado de pé entre cortinas. Sepulcros da época visigótica selados com uma laje sepulcral de mármore, como a do ilustre Gregório, posteriormente reutilizada para sepultar Eleutério e Perpétua. Criptas funerárias como a dos bispos até os túmulos de ilustres famílias locais dos séculos XVI e XVII, como o Moscoso ou o Mejía.
Antes de sair deste conjunto arqueológico e monumental, podemos ver que, anexo à igreja medieval, existe um edifício de estilo renascentista no segundo andar, feito inteiramente de taipa e tijolo, enquanto o primeiro andar é gótico e é elevado com alvenaria de granito. É o Convento de Las Freylas de Santiago , fundado no século XVI.

Aqueduto Los Milagros
No final da Calle Marquesa de Pinares está o Aqueduto Los Milagros, colossal aqueduto que faz parte de uma tubulação hidráulica que trazia água do reservatório de Proserpina. É popularmente conhecido como “Los Milagros” devido à admiração que seu estado de conservação causou em locais e estrangeiros apesar das vicissitudes do tempo. E não é para menos, pois mais de oitocentos metros deste aqueduto estão preservados, alguns dos quais pilhas de granito e tijolo erguem-se vinte e sete metros acima do solo.
No extremo norte, no início do pequeno vale do Arroyo Albarregas, a conduta tinha uma piscina para purificar a água, a Piscina da Limaria, que servia ao mesmo tempo de fonte.
Seguindo o curso das Albarregas, avista-se a Ponte Romana sobre as Albarregas. Tanto a estrada principal que dividia a cidade de leste a oeste, o cardo máximo, quanto alguma outra estrada perimetral que cercava a cidade a oeste convergiam para esta ponte. Dali começava a estrada que levava a Astorga e é conhecida como Vía de la Plata, uma estrada que está parcialmente preservada em alguns trechos a cerca de três quilômetros ao norte da cidade, quase paralela à Rodovia Nacional 630.
No final da rota podemos ver o Castellum Aquae que está localizado no ponto mais alto do Cerro Del Calvario. Até meados da década de 1970, fazia parte da estrutura da ermida do Calvário, onde tinha a sua sede a mais antiga Irmandade da Penitência da cidade. A demolição deste edifício expôs o que provavelmente era a torre de onde se distribuía a água da adutora de Proserpina por toda a zona norte de Augusta Emérita.

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